Duzentos anos da proclamação da Independência e cento e trinta e cinco da libertação de negros escravizados. Fatos, sem sombra de dúvidas, essenciais para a construção das origens brasileiras, e os mesmos, retratados em “Branquitude Brasileira”, um documentário de António Tostes. Lançado, recentemente, no CCJF (Centro Cultural da Justiça Federal), no Centro do Rio de Janeiro, o filme enfatiza o racismo estrutural e tem como recorte a jornada de Luiz Gama. Além do mais, o ator Déo Garcez, renomado por seus papéis no teatro e nas telenovelas, é um dos produtores e o protagonista, e faz o público refletir o Brasil, mediante aos seus próprios desafios e sua biografia.
“Foca a minha trajetória de homem preto, cidadão, artista e que vem recuperando a história e o destaque de Luiz Gama na luta pela liberdade de cidadãos escravizados, através do espetáculo Luiz Gama: uma voz pela liberdade, com texto meu e direção de Ricardo Torres. No elenco, eu, Deo, como protagonista, interpretando o próprio Luiz Gama; e a atriz Soraia Arnoni”, declara o ator.
No longa, Déo fala sobre o desejo de se tornar ator e, ainda, da bolsa de estudos que precisou, pois usava todo o salário para pagar a Faculdade de Artes Dulcina de Moraes. “Já trabalhava nos correios e soube que pessoas escreviam cartas a fim de solicitar bolsas, empregos, para os políticos que governavam e na época, quem presidia era o Sarney. Recorri a ele. Contei minha história e que estava a ponto de desistir. No dia seguinte, recebi um telegrama do secretário dele, me orientando a me inscrever no crédito educativo da Caixa Econômica Federal para que, de alguma forma, essa bolsa se agilizasse, através do presidente e, assim, aconteceu. Consegui e segui o meu sonho”.
O que precisa ser feito para que, no Brasil, cidadãos negros recebam um tratamento digno e todos os seus direitos sejam cumpridos, principalmente, no mercado de trabalho?
Penso que é urgente que haja uma educação anti-racista em nossas escolas, desde o ensino básico, a começar pelo cumprimento da lei 10639 que estabelece a obrigatoriedade do ensino e história da cultura afro-brasileira e indígena na grade curricular. Sabemos que nossa educação supervaloriza a história e a cultura branco-européia em detrimento das africanas e indígenas. O brasileiro precisa conhecer a verdadeira história do Brasil, a importância de pessoas escravizadas e dos índios na construção do nosso país. O pleno cumprimento dessa lei será uma contribuição fundamental no combate ao racismo, ajudará e muito, através da conscientização, de que dignidade, direitos iguais devem ser para todas as pessoas em todas as esferas da sociedade, e isso inclui também o mercado de trabalho.
Quanto à escravidão, acrescenta: Deixou sequelas drásticas, que insistem em permanecer até hoje! Exatamente pela falta de humanismo, de conhecimento, pela alienação, pelos apagamentos intencionais da nossa verdadeira história, de nossos heróis e heroínas negro, que tiveram importância fundamental em tantas aspectos, em tantas áreas do conhecimento exercidos com eficiência na sociedade brasileira. Tivemos conquistas sim, claro, como a lei de cotas nas universidades, mas infelizmente ainda estamos longe de uma equidade. Porém a luta de nossos heróis e heroínas não foi em vão, ela é necessária, é permanente. A luta continua!”.
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